LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

domingo, outubro 23, 2005

Canotilho defende revisão profunda da Constituição

Leonete Botelho
O constitucionalista Joaquim Gomes Canotilho defende a necessidade de uma "profunda revisão constitucional", mas de sentido diferente ao que "se anda a agitar no dia-a-dia nos jornais", como é a questão dos poderes do Presidente da República.
"Eu penso que há problemas de organização do poder político, mas que não são estes que são agitados", afirmou ao PÚBLICO, antecipando uma intervenção que fará em breve no Porto. Em seu entender, o que necessita de intervenção são questões ligadas sobretudo à fiscalização do Estado. "É preciso aprofundar a ideia da transparência das instituições, introduzir esquemas de combate eficaz à corrupção. É todo um conjunto de esquemas que hoje fazem parte da chamada "excelência da governação" que não está a ser introduzida no país", advoga.Um dos instrumentos que o professor de Coimbra considera essencial ser transportado para o aparelho de Estado é o controlo de avaliação das instituições. "É um controlo que está a ser experimentado em tudo, que as empresas privadas têm, que está em curso nas Universidades, mas que devia ser alargado a todos os sectores do Estado, inclusive do Governo", defende. "O engenheiro Sócrates anda a dizer que ele próprio devia ser avaliado [enquanto primeiro-ministro], mas isso deve ser feito com esquemas mais profundos, mais institucionais e formais", considera.A "excelência da governação", especifica, passa pela consagração da ideia da responsabilidade, de avaliação das instituições, da comparabilidade das instituições. Em termos de avaliação e responsabilidade no sistema actual, dá como exemplo o sector da Justiça: "O juiz presta contas a alguém? E o procurador? Quem é que responde perante o povo", questiona. Para defender que "temos de inovar, introduzindo um sistema de perguntas que há no sistema americano. Cá está uma dimensão presidencialista".No próprio aparelho de Estado, Gomes Canotilho considera que é preciso mexer tanto a nível central como local e regional, desde o regime de financiamento das autarquias aos objectivos do Conselho de Estado. "O Parlamento não precisa de um staff melhor para exercer as suas funções de controlo, mesmo que seja à custa da diminuição do número de deputados?", interroga. Para afirmar que "há uma série de tópicos que é preciso agitar para renovar verdadeiramente a organização do sistema político".Não é preciso revisão dos poderes do PresidenteDo que a Constituição não precisa, segundo Gomes Canotinho, é de revisão dos poderes do Presidente da República (PR). "Tudo o que se tem falado para Portugal está testado na França e as conclusões muitas vezes vão em sentido contrário às que estão a ser agitadas na imprensa portuguesa", afirmou ao PÚBLICO. Por exemplo, a possibilidade de o PR participar no Conselho de Ministros - que deixou de ser possível em Portugal a partir de 1982 -, "é precisamente o problema do regime francês, onde o PR tem esse poder, bem como o de dinamizar duas pastas, (as política externa e a segurança e defesa), o que tem dado imensos problemas de coabitação"."É óbvio que o sistema que temos não é fácil, porque é um sistema de equilíbrio, mas o que me parece é que, depois dos testes e das revisões todas, há um certo equilíbrio e o problema está na "sagest" do Presidente: como é que ele interpreta os dados, como se relaciona com o Governo e com a Assembleia, como é que vê os problemas do país", afirma Canotilho. "Mas para isso não há códigos nem regras, depende muito do contexto e da sabedoria do PR", remata (Publico)


PGR quer que os jornalistas revelem fontes

A Procuradoria-Geral da República (PGR) esclareceu ontem que as investigações sobre violação de segredo de justiça relacionada com processos sobre alegados crimes de fraude fiscal em instituições financeiras vão abranger todos os intervenientes. "Nunca foi afirmado, e nunca poderia ter sido, que, à partida, as investigações sobre violação de segredo de justiça excluíssem quem quer que seja e, designadamente, intervenientes no processo", sublinhou à Agência Lusa uma fonte do gabinete da PGR. Na sexta-feira a Lusa referiu que, neste caso, os processos sobre violação do segredo de justiça abrangem apenas os jornalistas que tornaram públicas as investigações, não envolvendo inspectores da Polícia Judiciária ou elementos do Ministério Público. Informação que foi reproduzida pelo DN. "O que foi referido foram as dificuldades evidentes em se conseguir identificar as pessoas que veiculam para a comunicação social factos em segredo de justiça", acrescentou a mesma fonte, recordando as palavras proferidas por Souto Moura "Há aqui uma contradição enorme. Os jornalistas queixam-se de serem processados por violação do segredo de justiça. Mas sabem quem é o co-autor, e não o revelam."

Portugal e a "liberdade de imprensa"

Portugal surge em 24º lugar no relatório sobre liberdade imprensa anualmente elaborado pela organização Repórteres sem Fronteiras, à frente de países como o Reino Unido, a França, a Espanha, a Itália e os Estados Unidos, que caíram do 23º para o 44º lugar devido ao caso que levou à prisão a jornalista Judith Miller, do New York Times. A lista - liderada por um conjunto de sete países do Norte da Europa que inclui Dinamarca, Finlândia e Noruega - coloca nos últimos lugares de um total de 167 países a Coreia do Norte, a Eritreia, o Turquemenistão e o Irão. Entre os países que têm o português como língua oficial o mais bem classificado é Cabo Verde (29º), seguido de Moçambique (49º), Timor-Leste (58º), Brasil (63º), Guiné-Bissau (71º) e Angola (76º).

Eleita candidata afegã que criticou senhores da guerra

Uma mulher de 27 anos que chamou criminosos aos senhores da guerra do Afeganistão foi uma das primeiras eleitas nas legislativas do país. Malalai Joya (ver aqui) vai agora sentar-se no Parlamento ao lado dos mesmos senhores da guerra que denunciou, afirmando que deveriam ser julgados, durante as deliberações para a aprovação da constituição em 2003."Estou muito contente e agradecida aos afegãos, homens e mulheres, que votaram em mim", afirmou Malalai Joya à Associated Press. "A minha primeira prioridade quando for para o Parlamento será a paz, segurança e estabilidade, e a recolha das armas dos senhores da guerra", garantiu. "Vou tentar impedir os senhores da guerra e os criminosos de construir leis que destruam os direitos do povo afegão, especialmente das mulheres."O facto de ter escolhido um alvo tão poderoso para as suas críticas fez com que tivesse de fazer campanha sob fortes medidas de segurança. A província da candidata, Farah, perto da fronteira com o Irão, é a mesma onde na semana passada foi morto e assassinado o britânico David Addison.Especulava-se, antes de conhecidos os primeiros resultados das eleições de 18 de Setembro, que num país conservador como o Afeganistão as mulheres só seriam eleitas devido ao sistema de quotas, que lhes garante 27 por cento de representação parlamentar. No entanto, estas previsões têm sido contrariadas pelos resultados parciais, com as mulheres a serem mais votadas do que os homens em muitas províncias, observou o diário britânico The Times

Afinal, a areia movediça não engole pessoas

Se ficar preso em areias movediças, o importante é manter a calma - afirmam dois físicos holandeses e um francês. Esqueça tudo o que viu em filmes sobre pessoas a serem engolidas em poucos minutos. Isso é fisicamente impossível, dizem os cientistas num artigo na revista Nature. O mito das areias movediças assassinas fica remetido, em definitivo, para a ficção científica. Utilizando amostras de areias movediças apanhadas no Irão, por Daniel Bonn, da Universidade de Amesterdão, os cientistas fizeram experiências com contas de alumínio, da mesma densidade de um ser humano. A conclusão é que ninguém ficará enterrado para lá da cintura. A areia movediça não passa de areia saturada com água. Quando um sólido, como uma pessoa menos atenta, a pisa, os grãos de areia isolados pela água perdem a estabilidade e correm para baixo, como se fossem líquido. Neste momento, não vale a pena tentar sair da areia movediça, porque a força necessária para mover um pé é igual à que precisa para levantar um carro de tamanho médio. Com a descontracção que lhe for possível, aguarde que os grãos de areia assentem e reintroduza água na mistura, ao mesmo tempo que abana as pernas. A própria capacidade de flutuar da mistura vai acabar por empurrá-lo para a superfície, garante Bonn

Supremo Tribunal dos EUA rejeita indemnizações a tabaqueiras

Mário Barros
O Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América (EUA) rejeitou um apelo da administração norte-americana, que pedia uma indemnização multimilionária às companhias de tabaco. O Departamento de Justiça tinha apontado um valor na ordem dos 280 mil milhões de dólares (231 mil milhões de euros) em prejuízos causados por empresas que, alegadamente, teriam enganado os consumidores acerca dos malefícios do tabaco. O valor da indemnização foi calculado com base nos lucros das tabaqueiras entre 1971 e 2000.Diversos analistas já consideraram ter sido esta uma vitória importante das tabaqueiras, cujos stocks aumentaram de forma significativa após a decisão. Também o índice do tabaco do Dow Jones subiu ao seu ponto mais alto desde Março de 2000, com um incremento de seis pontos percentuais.Na base da decisão do Supremo Tribunal dos EUA poderá estar um argumento de peso: as companhias alegaram que a legislação anti-máfia (permitia o recurso a lucros antigos para pagamento de indemnizações) não podia ser usada retroactivamente para as penalizar. Em Fevereiro deste ano, o tribunal determinou que estas leis apenas podem ser aplicadas como forma de prevenir futuras violações.Philip Morris, Loews Corporation, Lorillard Tobacco, Altria, RJ Reynolds, Brown & Williamson Tobacco e a British American Tobacco são algumas da empresas envolvidas neste processo, tendo sempre negado qualquer teoria de uma conspiração conjunta para enganar os consumidores acerca do perigo de fumar.Deste modo, foi contrariada uma determinação de um juiz de distrito, Gladys Kessler, que concluiu pela possibilidade de a administração pedir indemnizações monetárias como compensação por alegadas fraudes ao longo de anos.Este era um dos casos que mais empenho tiveram do Departamento de Justiça nos últimos anos, razão pela qual o seu porta-voz, Charles Miller, preferiu não tecer qualquer comentário logo a seguir à decisão do Supremo.O conselheiro-geral da Altria - empresa-mãe da Philip Morris -, William Ohlemeyer, disse em comunicado que a empresa "acredita que o Supremo Tribunal dos EUA negou de forma apropriada a petição do Governo". O caso poderá, no entanto, não ficar por aqui, uma vez que há decisões contraditórias de tribunais em casos similares e dentro do próprio Governo há divergências quanto ao valor da indemnização a pedir.

Benfica com 5,8 milhões de euros de prejuízo

A SAD do Benfica apresentou na época 2004/05 um resultado líquido negativo de 5,83 milhões de euros, segundo o relatório de gestão e contas apresentado à CMVM e ainda não aprovado pela assembleia geral (AG). Apesar dos números negativos, o resultado representa uma melhoria em relação a idêntico período de 2003/04, quando a SAD benfiquista apresentou um prejuízo de 7,98 milhões de euros. Estas contas serão tornadas públicas aos accionistas da SAD "encarnada" no próximo dia 25, terça-feira, em assembleia geral a realizar no Pavilhão n.º 1 do Estádio da Luz.

Robert Mugabe compara Bush e Blair a Hitler

O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, acusou hoje o primeiro-ministro britânico e o Presidente norte-americano de serem “os homens mais maldosos” do planeta e dois “terroristas internacionais”. O discurso de Mugabe já foi criticado pela Comissão Europeia e pela diplomacia dos EUA. Apesar de proibido de entrar no espaço da União Europeia, Mugabe viajou até Roma a convite da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), que celebra o seu 60 aniversário, e aproveitou a tribuna internacional para desferir um dos mais violentos ataques contra os dois dirigentes.“Devemos deixar que estes homens, dois dos mais maldosos do nosso milénio, ao mesmo nível de Hitler e Mussolini, formar uma aliança malvada para atacar um país inocente?”, questionou, numa aparente referência ao Iraque.“A voz de Bush e a de Blair não podem decidir quem manda no Zimbabwe, quem manda em África, na Ásia, na Venezuela, no Irão ou no Iraque”, declarou Mugabe, num “piscar de olhos” a alguns dos regimes mais hostis aos EUA e Reino Unido.O líder zimbabweano, alvo de sanções por parte da União Europeia e dos EUA, afirmou que os Estados mais pequenos não se devem deixar intimidar “pelo mundo de gigantes e de terroristas internacionais”.Mugabe aproveitou também para defender a sua polémica reforma agrária, sustentando que o país tinha de pôr cobro “ao forte desequilíbrio” na distribuição da terra, herdado do regime colonialista britânico.A reforma passou no essencial pela expropriação de centenas de fazendas nas mãos de agricultores brancos e na sua entrega a pessoas próximas do partido no poder – uma iniciativa que agravou a pior crise económica que o país enfrenta desde a sua independência em 1980. Estima-se que cinco a 12 milhões de pessoas necessitem de ajuda alimentar externa para sobreviver.Contudo, Mugabe afirma que a crise é resultado das sanções decretadas pela UE contra o regime zimbabweano, na sequência de alegadas fraudes registadas durante as legislativas de 2000 e nas presidenciais de 2002. Também os EUA decretaram várias sanções contra os dirigentes do regime de Mugabe.Numa primeira reacção ao discurso – aplaudido por vários delegados presentes na cimeira –, o embaixador norte-americano criticou a FAO por ter convidado o líder do Zimbabwe para o encontro, sustentando que Mugabe é responsável “por deixar morrer à fome o seu próprio povo”. “Creio que falo pela Administração americana quando digo que Mugabe abusou do seu país e abusou do seu povo”, afirmou o embaixador.Por seu lado, a Comissão Europeia condenou a atitude de Mugabe. “Lamentamos profundamente este tipo de declarações, que não são, de forma alguma construtivas”, afirmou Amadeu Altafaj, porta-voz do comissário europeu para o Desenvolvimento.“O que ele disse nestes últimos dias e horas vem apenas confirmar as decisões acertadas da União Europeia no que diz respeito ao Zimbabwe”.

Há cada vez mais pessoas centenárias no mundo

Andreia Sanches
Por agora ainda é relativamente raro, mas as Nações Unidas estimam que em 2050 haverá, em todo o planeta, 3,2 milhões de habitantes com cem ou mais anos.
É uma mulher franzina, de aparência frágil, que reza todos os dias para que Deus lhe dê saúde. "Deus está me ajudando a ser feliz aonde eu vou", declarou recentemente ao jornal brasileiro O Globo. Vive numa cabana de madeira, numa localidade rural chamada Astorga, no Brasil. Chama-se Maria Olívia da Silva. Em Fevereiro, anunciou a família, celebrou os 125 anos de idade. À partida, chegar até aqui colocaria esta mãe de 14 filhos no primeiro lugar da lista das pessoas mais velhas do mundo (ainda vivas) que periodicamente o Grupo de Investigação Gerontológica (GRG, na sigla em inglês) actualiza. Esta organização sediada nos Estados Unidos tem um ranking dos "supercentenários" mais idosos do mundo e, segundo faz saber, uma rede de especialistas que um pouco por toda a parte verificam se os mais velhos o são de facto, percorrendo cartórios e analisado certdiões de nascimento, por exemplo. A última actualização foi feita a 29 de Setembro. Contudo a GRG não obteve ainda informação suficiente para certificar a idade da brasileira. Prosseguem as investigações. Para já Maria Olívia está fora do palmarés dos "supercentenários", pelo que a pessoa viva registada com mais idade é uma americana. O Guinness World Records confirma. Chama-se Elizabeth Lizzie Bolden, nasceu no dia 15 de Agosto de 1890, em Somerville, Tennessee, tem 115 anos e apenas mais 29 dias do que a segunda mulher mais velha - também ela negra e nascida nos Estados Unidos. Dos 68 centenários mais idosos - e ainda vivos - que fazem parte da lista do GRG, 60 são mulheres. E duas são portuguesas. Maria de Jesus (ver texto ao lado) passou a ser a 18ª mais idosa, de acordo com a organização, que lembra que nem todos os "supercentenários" que existem no mundo fazem parte do seu ranking - a lista contém apenas os casos que foram validados e que representarão, estima, 10 por cento das pessoas que vivem com 110 ou mais anos.Clara dos Santos, 111 anos, outra portuguesa a fazer parte da lista, aparece em 31º lugar. Segundo o Censos de 2001, havia, nesse ano, 589 portugueses com cem ou mais anos de vida (dos quais apenas 95 homens). Japoneses recebem carta e taça de prataO número dos que conseguem atingir este patamar de longevidade permanece reduzido. As Nações Unidas estimam que existiriam, no ano de 2000, cerca de 180 mil centenários vivos em todo o mundo, 78 por cento dos quais residentes em países desenvolvidos. Mas em 2050, refere o mesmo organismo, já poderão ser 3,2 milhões.Os "muito idosos" (definidos como os que têm 80 ou mais anos) são mesmo, no mundo desenvolvido, o grupo etário que está a crescer mais rapidamente, dizem as mais diversas fontes. Continuará de resto a ser nas regiões mais desenvolvidas que se concentrará o grosso dos centenários. E de acordo com as Nações Unidas o Japão, em particular, experimentará "um aumento extraordinário" da sua população centenária. Em 2050 será o país com mais pessoas com cem ou mais anos (que representarão qualquer coisa como um por cento da população).Só nos últimos dois anos o Japão duplicou o número de centenários: 25.606 cidadãos já passaram a barreira do século de vida - 85 por cento são mulheres, informou recentemente o ministro da Saúde, Trabalho e Bem-estar.Desde 1965 que o Governo actualiza anualmente o número de japoneses centenários. A cada 19 de Setembro assinala o dia do respeito para com os mais velhos e entrega a cada centenário uma carta do primeiro-ministro e uma taça de prata.Aliás, o homem mais velho que existiu no mundo e sobre o qual há documentação foi precisamente um japonês: Shigechiyo Izumi, que morreu em 1986, aos 120 anos e 237 dias, vítima de uma pneumonia. Este campeão da longevidade foi registado nos primeiros Censos do Japão, feitos em 1871, como tendo então seis anos de idade. A mulher que mais viveu foi a francesa Jeanne Louise Calment. Morreu em 1997 com 122 anos e 164 dias (Publico)

Os homens morrem ao domingo

paula Ferreira
Os jovens do sexo masculino morrem ao domingo. Um estudo desenvolvido pelo Observatório Nacional de Saúde (Onsa) do Instituto Ricardo Jorge chegou a resultados classificados como "surpreendentes". Os homens entre os 15 e os 24 anos morrem de sete em sete dias, ao domingo. Ao contrário, a mortalidade feminina não apresenta qualquer tipo de periodicidade.Não é apenas semanal a sazonalidade da morte no masculino. É também semestral e anual. Os homens perecem mortalmente sobretudo nos meses de Junho, Julho e Agosto. Em Agosto de 1999 morreram mais de 100 jovens, no mesmo mês de 1993 perderam a vida mais de 200; o mesmo aconteceu em Junho de 1981. Paulo Nogueira, um dos autores deste trabalho, destaca a periodicidade semanal destas sequências numa investigação que, com base nos dados de mortalidade do Instituto Nacional de Estatística, relativos a todas as causas de morte, avaliou o período entre 1980 e 2000. "Encontrámos algo sistemático, sobre- tudo a partir da segunda década", refere o investigador. O elemento comum foi a morte com dia marcado. No primeiro domingo de Junho de 1994 morreram 12 jovens, no segundo oito e no terceiro sete. Entretanto, a equipa do Onsa já começou a analisar os dados de 2001 e a tendência é ainda mais evidente. Os jovens do sexo masculino continuam a morrer, sobretudo, ao fim--de-semana.Números que indiciam a existência de "comportamentos sociais e culturais a contribuir para a mortalidade sistemática dos indivíduos do sexo masculino com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos". Paulo Nogueira admite que a sazonalidade da morte dos jovens "pode estar relacionada com acidentes de viação". Ao grupo de trabalho que avaliou os dados estatísticos competiu "fazer a foto". Ilustrada a realidade, são necessários, defendem os autores do trabalho, "estudos adicionais para esclarecer a natureza periódica destas mortes".A crueza da estatística não pode apagar um dado preocupante. São homens jovens que morrem prematuramente e o seu fim podia ser evitado. Dados que também fazem parte de um relatório publicado há poucos dias pela Direcção-Geral da Saúde, sobre "Mortalidade em idades jovens". Avaliado o período entre 1992 e 2003, constatou-se que a morte por causas violentas - acidentes, suicídios e homicídios - tem "uma expressão acentuada" nos grupos de indivíduos do sexo masculino com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos. Já as mulheres destas faixas etárias morrem, fundamentalmente, por causas naturais, assim como os rapazes entre os dez e os 14 anos.O género na morte. É no domínio da morte violenta que a diferença entre homens e mulheres é mais notória. O relatório da Divisão de Saúde Materna, Infantil e dos Adolescentes da DGS aponta para diferenças da ordem dos 80 e 90% em alguns dos aspectos abordados. Por exemplo, quando se analisam os acidentes de transporte enquanto causa de morte, "os óbitos verificados nos homens representaram mais de 80% dos casos".A matriz social pode mais uma vez explicar a estatística. Vasco Prazeres, coordenador do estu- do, lembra que ainda "há territórios de comportamento nitidamente feminino e outros masculinos". Apesar de grandes transformações sociais em curso, "a visão social do trabalho faz com que existam trabalhos sobreexpostos ao risco". Aponta como exemplos profissões do domínio masculino motoristas, mineiros, trabalhadores da construção civil.Mas há outras explicações para a sobremortalidade masculina. Vasco Prazeres aponta uma certa "ideologia cultural" que faz com que "comportamentos sociais os exponham mais ao risco" e exemplifica "O homem tem que beber para ser homem e tem, ao volante, que acelerar bastante." Os padrões de mortalidade nos jovens permitem verificar que "uma parte substantiva dos óbitos ocorridos nesta faixa etária corresponde a mortes evitáveis". Vasco Prazeres alerta que por cada um destes jovens cuja morte poderia ter sido evitada "seis ficaram com sequelas para o resto da vida". Dados que não devem ser menosprezados em termos de impactos sociais e económicos (DN de Lisboa)

As guerras de Robert Fisk

Passou os últimos 25 anos no Médio Oriente. Enviou reportagens a partir dos piores cenários de guerra. O britânico Robert Fisk, correspondente primeiro do Times e depois do Independent, escreveu agora The Great War for Civilization (a grande guerra pela civilização). Foi buscar o título a uma medalha, como explica no prefácio: "O meu pai era soldado na Grande Guerra, combatendo nas trincheiras de França por causa de um tiro disparado numa cidade de que nunca tinha ouvido falar chamada Sarajevo. Quando morreu (...) herdei as suas medalhas. Uma delas tinha inscrito no reverso: "A grande guerra pela Civilização"". E conta: "Passei uma grande parte da minha vida em guerras, também travadas "pela civilização"".A escrita de Fisk não pretende dar uma visão objectiva da situação no Médio Oriente, da guerra no Afeganistão, ou da invasão do Iraque. Mas é também o relato de um jornalista em situação de guerra, da frustração dos correspondentes que passam as suas vidas a dar conta do "primeiro rascunho da história", das suas fraquezas, cobardia e coragem.Quando começou a escrever o livro, "pretendia que fosse a crónica de um repórter sobre o Médio Oriente ao longo de quase três décadas". Mas percebeu depois que esta iria ser mais do que uma cronologia de acontecimentos. Talvez porque, ao longo dos anos, tenha "testemunhado momentos que apenas podem ser definidos como a arrogância de poder"."Os Governos gostam que seja assim. Querem que as pessoas vejam a guerra como um drama entre opostos, bom e mau, "eles" e "nós", vitória e derrota. Mas na guerra não se trata de vitória, mas de morte e de infligir a morte. Representa o falhanço total do espírito humano".Não precisou de remexer nos seus blocos de notas para se lembrar do pai iraquiano que foi na sua direcção com metade de um bebé nos braços, vítima de uma bomba de fragmentação americana. Ou da vala comum em Nassiriyah, onde uma perna estava ainda com a placa hospitalar, porque o homem tinha sido levado directamente do hospital para o local da execução, no deserto.Guardou tudo na memória: a entrevista a Osama bin Laden na sua tenda no topo de uma montanha do Afeganistão, o acompanhar da fuga taliban quando os americanos invadiram o país depois do 11 de Setembro, a entrada de Colin Powell nas Nações Unidas para explicar porque é que Saddam Hussein ia ser derrubado no Iraque, os mísseis que viu cair em Bagdad no primeiro dia da guerra... "Os resultados físicos directos de todos estes conflitos continuarão - e devem continuar - na minha memória até morrer" (Publico)

Bad boy Cameron

Susana Moreira Marques, Londres
As especulações sobre experiências com drogas no passado têm dominado a recta final da campnha de David Cameron para a liderança dos conservadores britânicos
"Já alguma vez tomou drogas?", a pergunta, feita por Andrew Rawnsley, do jornal de referência Observer, surgiu durante a conferência do partido conservador britânico no início de Outubro e era apenas a primeira. Nas subsequentes entrevistas durante a campanha para a liderança dos tories, David Cameron, o jovem candidato com 39 anos, não iria escapar à repetição insistente da mesma pergunta. Os tablóides ingleses apressaram-se a investigar o passado do candidato e de pessoas relacionadas com ele, os analistas políticos debateram a importância das perguntas e das respostas evasivas de Cameron, fizeram-se apostas e sondagens.Na primeira fase de votações, pelos deputados conservadores, claramente o tema das drogas não prejudicou o jovem concorrente: 90 votos e o primeiro lugar, Cameron é agora o favorito na corrida à liderança conservadora.Três semanas antes, tal resultado parecia improvável. Demasiado jovem, demasiado inexperiente, um especialista em política britânica, Patrick Dunleavy, afirmava ao PÚBLICO sem reservas, que Cameron era um absoluto desconhecido.Sexta-feira, arrancou a campanha junto dos membros do partido conservador, que vão ter que escolher o seu líder entre dois Davids: David Cameron e David Davis. O jornal The Independent publicava a imagem de um Londrino abraçado, com emoção, a David Cameron. A legenda citava o "fã": "Todos fomos maus rapazes". Um Cameron sorridente condizia com o epíteto em título - " Bad boy Cameron".Margaret Scammell, especialista em media, termina a conversa com o PÚBLICO com uma conclusão: "As pessoas podem não saber mais nada sobre Cameron, mas conhecem-no relativamente à questão "tomou ou não tomou drogas duras?". Dá que pensar nos malefícios ou benefícios da difamação. "Por enquanto, não o prejudicou. Provavelmente, até ajudou a melhorar o perfil dele."Errar é humanoSe a primeira pergunta é se tomou drogas, as dúvidas que se colocam de seguida são: "quando?", "quanto?", e sobretudo, "o que tomou"?A primeira resposta de Cameron - "tive uma experiência normal de universidade" -, ao jornalista do Observer, fazia especular que "o que tomou" seria cannabis. Mas não foi preciso muito tempo para que a "o que tomou" viesse associado cocaína. A modelo Kate Moss, apanhada em flagrante, tinha feito as primeiras páginas; vestígios de cocaína, segundo os tablóides, tinham sido encontrados nas casas-de-banho da conferência do partido trabalhista; políticos e músicos acusam jornalistas de usar cocaína - a droga está na moda. Em duas semanas, os tablóides descobriam um parente de Cameron toxicodependente e publicaram uma fotografia de George Osborne - grande aliado político do candidato - na companhia de uma prostituta consumidora de cocaína, 12 anos atrás. "Somos todos humanos e erramos e perdemo-nos", declarou Cameron num programa de televisão. "Errar é humano" parecia ser a mensagem subjacente nas respostas, nunca concretas, de Cameron, logo acompanhada de uma posição unívoca em relação aos media: "Tenho o direito de ter uma vida privada antes da política", "não devemos ser dirigidos pelos media" , disse, recusando-se a responder "sim" ou "não".Margaret Scammell acha que o silêncio de Cameron provocou um fenómeno curioso: "Como ele não diz nada, a discussão é continuada por ele, por uma série de outras pessoas." O debate passou a ser sobre o limite da vida privada dos políticos tornando menos e menos relevante o facto de ele ter ou não tomado drogas. Finalmente, três dias atrás, David Cameron não fugiu à pergunta: a resposta foi "não", nunca tinha tomado drogas... "desde que é deputado". Fazer a lei versus quebrar a leiContactado pelo PÚBLICO, Andrew Rawnsley argumenta: "Os políticos usam as partes das suas vidas que calculam serem mais atractivas para o público, portanto, não podem esperar vetar o interesse nas partes das suas vidas que os põe nervosos." Scammell concorda e acrescenta que sendo os políticos "legisladores nos aspectos de comportamento privado", justifica-se saber quais são os seus próprios comportamentos. Mas, claro, explica, é difícil distinguir entre o que é de "interesse público" e "o que interessa ao público". Scammell rise: "Este tipo de fofoquice privada é aquilo que faz o sucesso das telenovelas."Rumores espalham-se facilmente e a Scammell, como a muitos comentadores políticos, só resta especular - a questão "Cameron versus drogas" surgiu do interior dos media ou do interior da política? Andrew Rawnsley afirma nunca ter tido intenção de "sabotar" a campanha de Cameron, mas admite: "alguns dos seus opositores e alguns elementos dos media têm, sem dúvida, insistido no assunto com o objectivo de o prejudicar."Até agora, conspiração ou não, não resultou (Publico)

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