LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

domingo, outubro 23, 2005

Bad boy Cameron

Susana Moreira Marques, Londres
As especulações sobre experiências com drogas no passado têm dominado a recta final da campnha de David Cameron para a liderança dos conservadores britânicos
"Já alguma vez tomou drogas?", a pergunta, feita por Andrew Rawnsley, do jornal de referência Observer, surgiu durante a conferência do partido conservador britânico no início de Outubro e era apenas a primeira. Nas subsequentes entrevistas durante a campanha para a liderança dos tories, David Cameron, o jovem candidato com 39 anos, não iria escapar à repetição insistente da mesma pergunta. Os tablóides ingleses apressaram-se a investigar o passado do candidato e de pessoas relacionadas com ele, os analistas políticos debateram a importância das perguntas e das respostas evasivas de Cameron, fizeram-se apostas e sondagens.Na primeira fase de votações, pelos deputados conservadores, claramente o tema das drogas não prejudicou o jovem concorrente: 90 votos e o primeiro lugar, Cameron é agora o favorito na corrida à liderança conservadora.Três semanas antes, tal resultado parecia improvável. Demasiado jovem, demasiado inexperiente, um especialista em política britânica, Patrick Dunleavy, afirmava ao PÚBLICO sem reservas, que Cameron era um absoluto desconhecido.Sexta-feira, arrancou a campanha junto dos membros do partido conservador, que vão ter que escolher o seu líder entre dois Davids: David Cameron e David Davis. O jornal The Independent publicava a imagem de um Londrino abraçado, com emoção, a David Cameron. A legenda citava o "fã": "Todos fomos maus rapazes". Um Cameron sorridente condizia com o epíteto em título - " Bad boy Cameron".Margaret Scammell, especialista em media, termina a conversa com o PÚBLICO com uma conclusão: "As pessoas podem não saber mais nada sobre Cameron, mas conhecem-no relativamente à questão "tomou ou não tomou drogas duras?". Dá que pensar nos malefícios ou benefícios da difamação. "Por enquanto, não o prejudicou. Provavelmente, até ajudou a melhorar o perfil dele."Errar é humanoSe a primeira pergunta é se tomou drogas, as dúvidas que se colocam de seguida são: "quando?", "quanto?", e sobretudo, "o que tomou"?A primeira resposta de Cameron - "tive uma experiência normal de universidade" -, ao jornalista do Observer, fazia especular que "o que tomou" seria cannabis. Mas não foi preciso muito tempo para que a "o que tomou" viesse associado cocaína. A modelo Kate Moss, apanhada em flagrante, tinha feito as primeiras páginas; vestígios de cocaína, segundo os tablóides, tinham sido encontrados nas casas-de-banho da conferência do partido trabalhista; políticos e músicos acusam jornalistas de usar cocaína - a droga está na moda. Em duas semanas, os tablóides descobriam um parente de Cameron toxicodependente e publicaram uma fotografia de George Osborne - grande aliado político do candidato - na companhia de uma prostituta consumidora de cocaína, 12 anos atrás. "Somos todos humanos e erramos e perdemo-nos", declarou Cameron num programa de televisão. "Errar é humano" parecia ser a mensagem subjacente nas respostas, nunca concretas, de Cameron, logo acompanhada de uma posição unívoca em relação aos media: "Tenho o direito de ter uma vida privada antes da política", "não devemos ser dirigidos pelos media" , disse, recusando-se a responder "sim" ou "não".Margaret Scammell acha que o silêncio de Cameron provocou um fenómeno curioso: "Como ele não diz nada, a discussão é continuada por ele, por uma série de outras pessoas." O debate passou a ser sobre o limite da vida privada dos políticos tornando menos e menos relevante o facto de ele ter ou não tomado drogas. Finalmente, três dias atrás, David Cameron não fugiu à pergunta: a resposta foi "não", nunca tinha tomado drogas... "desde que é deputado". Fazer a lei versus quebrar a leiContactado pelo PÚBLICO, Andrew Rawnsley argumenta: "Os políticos usam as partes das suas vidas que calculam serem mais atractivas para o público, portanto, não podem esperar vetar o interesse nas partes das suas vidas que os põe nervosos." Scammell concorda e acrescenta que sendo os políticos "legisladores nos aspectos de comportamento privado", justifica-se saber quais são os seus próprios comportamentos. Mas, claro, explica, é difícil distinguir entre o que é de "interesse público" e "o que interessa ao público". Scammell rise: "Este tipo de fofoquice privada é aquilo que faz o sucesso das telenovelas."Rumores espalham-se facilmente e a Scammell, como a muitos comentadores políticos, só resta especular - a questão "Cameron versus drogas" surgiu do interior dos media ou do interior da política? Andrew Rawnsley afirma nunca ter tido intenção de "sabotar" a campanha de Cameron, mas admite: "alguns dos seus opositores e alguns elementos dos media têm, sem dúvida, insistido no assunto com o objectivo de o prejudicar."Até agora, conspiração ou não, não resultou (Publico)

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