LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

quarta-feira, outubro 19, 2005

Os últimos dias do Palácio da República em Berlim

Alexandra Hudson
O fim está próximo para o que é porventura o mais pavoroso edifício de Berlim, um colosso de cimento e aço que em tempos foi a sede do Governo da República Democrática Alemã, comunista, e hoje surge de forma estranha no principal trajecto turístico da cidade. A demolição do Palácio da República está marcada para Dezembro, para pesar de muitos alemães de Leste nostálgicos dos dias de auge do regime socialista e de uma legião de artistas alternativos que têm usado nos últimos anos os vastos espaços da enorme ruína.O prédio, coberto de graffiti, cujo destino ainda agita as divisões persistentes entre alemães de Oeste e de Leste, despede-se agora da cidade com um último desafio - uma exposição sobre a morte."Custa ver o fim deste edifício", afirma Gisela Plock, 72 anos, cuja filha se casou num dos seus salões-restaurantes. A pensionista de Berlim confessa que era uma frequentadora do local até se descobrir que o edifício estava gravemente doente (com amianto) e ter encerrado em 1990.Há três anos, o Parlamento aprovou a demolição para permitir a reconstrução, no local, de uma réplica da velha residência estatal do último Kaiser, Guilherme II, que ali se ergueu até 1952. Os apoiantes da construção do Schloss defendem que restaurará a coerência histórica e arquitectónica do centro de Berlim.Quanto aos adversários, sublinham o custo elevado da demolição numa cidade sem dinheiro - o Palácio da República fica no rio Spree e obrigará a dispendiosas obras de desvio das águas. Sublinham também o acto simbólico - perturbador, segundo eles - de apagar um ícone da RDA, quando, 16 anos passados sobre a queda do Muro de Berlim, muitos alemães de Leste sentem que a reunificação deixa muito a desejar.A costeleta de ErichPara remover o amianto, os operários tiveram de despir o edifício (inaugurado em 1976) das suas escadarias de mármore, paredes interiores e das centenas de globos luminosos que deram ao Palácio a alcunha de A costeleta de Erich (Erich Honecker era o chefe do Partido Comunista).Algumas dessas lâmpadas iluminam agora uma nova geração de berlinenses - a sua curiosa luz cor de laranja foi resgatada por alguns dos bares mais na moda da cidade.Desde que o edifício, meio esventrado, reabriu em 2003, tem inspirado alguns projectos inovadores. A actual exposição, de artistas plásticos desconhecidos, é um inquietante olhar sobre a mortalidade humana. Uma parede coberta de fotos cheias de grão mostra os rostos de homens, mulheres e crianças mortos. Um quadro de partidas e chegadas igual ao dos aeroportos recorda ironicamente aos visitantes a incerteza da sua própria data de partida.No último Inverno, uma enorme instalação de luz no telhado do palácio projectava a palavra dúvida, visível a um quilómetro de distância. Era uma mensagem apropriada para o espírito de uma nação cheia de inseguranças quanto ao futuro, observaram então críticos de arte e comentadores políticos.
Jornalista da Reuters

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