Bispo chinês preso pela sexta vez em pouco mais de um ano

Com 70 anos, Jia Zhiguo é, desde 1980, bispo da diocese de Zhengding, na estrutura clandestina da Igreja Católica - o regime apenas reconhece a Associação Católica Patriótica (ACP), que reivindica cerca de quatro milhões de crentes, a qual controla a nomeação de bispos. De acordo com a Asianews, citada pelas agências internacionais, Zhiguo já passou vinte anos na prisão.
Esta é a sexta vez que, desde 5 de Abril de 2004, o bispo é detido. A sua detenção, na segunda-feira, foi considerada pelo Vaticano como "inadmissível da parte de um Estado de direito que declara garantir a "liberdade de religião" e "respeitar os direitos humanos"". A prisão, de acordo com a Aisanews, teria como objectivo levar o bispo a aderir à ACP.
Na sexta-feira, o relatório da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) sobre a liberdade religiosa no mundo colocava a China no topo da lista de países que violam este direito. Com dados referidos a 2004, o documento da AIS citava o caso da prisão, no ano passado, de 19 bispos católicos. "A situação é extremamente grave na China", considera o relatório da instituição de apoio às igrejas do Terceiro Mundo e dos países com limitações à liberdade religiosa.
A notícia da prisão do bispo surge, no entanto, num contexto em que vários pequenos sinais reflectem a vontade de aproximação do Vaticano em relação à China. Depois da eleição do novo Papa Bento XVI, a Santa Sé manifestou desejos de estabelecer relações diplomáticas com o Governo chinês. O próprio Papa Ratzinger declarou já que quer criar laços diplomáticos com os Estados com os quais isso ainda não acontece. Depois do corte de relações diplomáticas com o Vaticano, em 1951, a China promoveu a organização da Associação Católica Patriótica. No entanto, uns dez milhões a quinze milhões de crentes permanecem, na clandestinidade, fiéis a Roma. O que acontece, em muitos casos, é que os católicos participam nas estruturas da ACP e, ao mesmo tempo, também na rede clandestina ligada a Roma. Com muitos padres e bispos, a situação é semelhante. Tal foi o caso da ordenação do novo bispo auxiliar de Xangai, Joseph Xing Wenzhi, realizada na semana passada, aceite tacitamente pela estrutura clandestina e pela ACP, de acordo com o bispo da diocese Aloysius Jin Luxian. Também a libertação do padre Vincent Kong Guocun, 34 anos, ligado à rede clandestina, noticiada pela Rádio Vaticano, foi saudada em Roma como um gesto positivo. A libertação, concretizada no dia 8 de Junho mas conhecida apenas no sábado, teria sido devida às débeis condições de saúde do padre. Também na semana passada, uma delegação do Vaticano visitou o Vietname, numa iniciativa incluída na estratégia de aproximação às comunidades católicas minoritárias de vários países asiáticos. Mas com a China continua a haver um obstáculo de monta: Pequim exige que, para estabelecer relações diplomáticas com a Santa Sé, o Vaticano corte os laços que mantém com Taiwan. Na ilha existem cerca de 330 mil católicos. Uma sonhada viagem de João Paulo II à China também nunca se concretizou por estas mesmas razões.