LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

domingo, outubro 23, 2005

Os homens morrem ao domingo

paula Ferreira
Os jovens do sexo masculino morrem ao domingo. Um estudo desenvolvido pelo Observatório Nacional de Saúde (Onsa) do Instituto Ricardo Jorge chegou a resultados classificados como "surpreendentes". Os homens entre os 15 e os 24 anos morrem de sete em sete dias, ao domingo. Ao contrário, a mortalidade feminina não apresenta qualquer tipo de periodicidade.Não é apenas semanal a sazonalidade da morte no masculino. É também semestral e anual. Os homens perecem mortalmente sobretudo nos meses de Junho, Julho e Agosto. Em Agosto de 1999 morreram mais de 100 jovens, no mesmo mês de 1993 perderam a vida mais de 200; o mesmo aconteceu em Junho de 1981. Paulo Nogueira, um dos autores deste trabalho, destaca a periodicidade semanal destas sequências numa investigação que, com base nos dados de mortalidade do Instituto Nacional de Estatística, relativos a todas as causas de morte, avaliou o período entre 1980 e 2000. "Encontrámos algo sistemático, sobre- tudo a partir da segunda década", refere o investigador. O elemento comum foi a morte com dia marcado. No primeiro domingo de Junho de 1994 morreram 12 jovens, no segundo oito e no terceiro sete. Entretanto, a equipa do Onsa já começou a analisar os dados de 2001 e a tendência é ainda mais evidente. Os jovens do sexo masculino continuam a morrer, sobretudo, ao fim--de-semana.Números que indiciam a existência de "comportamentos sociais e culturais a contribuir para a mortalidade sistemática dos indivíduos do sexo masculino com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos". Paulo Nogueira admite que a sazonalidade da morte dos jovens "pode estar relacionada com acidentes de viação". Ao grupo de trabalho que avaliou os dados estatísticos competiu "fazer a foto". Ilustrada a realidade, são necessários, defendem os autores do trabalho, "estudos adicionais para esclarecer a natureza periódica destas mortes".A crueza da estatística não pode apagar um dado preocupante. São homens jovens que morrem prematuramente e o seu fim podia ser evitado. Dados que também fazem parte de um relatório publicado há poucos dias pela Direcção-Geral da Saúde, sobre "Mortalidade em idades jovens". Avaliado o período entre 1992 e 2003, constatou-se que a morte por causas violentas - acidentes, suicídios e homicídios - tem "uma expressão acentuada" nos grupos de indivíduos do sexo masculino com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos. Já as mulheres destas faixas etárias morrem, fundamentalmente, por causas naturais, assim como os rapazes entre os dez e os 14 anos.O género na morte. É no domínio da morte violenta que a diferença entre homens e mulheres é mais notória. O relatório da Divisão de Saúde Materna, Infantil e dos Adolescentes da DGS aponta para diferenças da ordem dos 80 e 90% em alguns dos aspectos abordados. Por exemplo, quando se analisam os acidentes de transporte enquanto causa de morte, "os óbitos verificados nos homens representaram mais de 80% dos casos".A matriz social pode mais uma vez explicar a estatística. Vasco Prazeres, coordenador do estu- do, lembra que ainda "há territórios de comportamento nitidamente feminino e outros masculinos". Apesar de grandes transformações sociais em curso, "a visão social do trabalho faz com que existam trabalhos sobreexpostos ao risco". Aponta como exemplos profissões do domínio masculino motoristas, mineiros, trabalhadores da construção civil.Mas há outras explicações para a sobremortalidade masculina. Vasco Prazeres aponta uma certa "ideologia cultural" que faz com que "comportamentos sociais os exponham mais ao risco" e exemplifica "O homem tem que beber para ser homem e tem, ao volante, que acelerar bastante." Os padrões de mortalidade nos jovens permitem verificar que "uma parte substantiva dos óbitos ocorridos nesta faixa etária corresponde a mortes evitáveis". Vasco Prazeres alerta que por cada um destes jovens cuja morte poderia ter sido evitada "seis ficaram com sequelas para o resto da vida". Dados que não devem ser menosprezados em termos de impactos sociais e económicos (DN de Lisboa)

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