LIBERTAÇÃO

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quarta-feira, novembro 09, 2005

O coração do palestiniano Ahmed bate dentro de uma menina israelita

Alexandra Lucas Coelho
A família de Ahmed Al Khatib, um menino palestiniano de 12 anos alvejado quinta-feira por soldados israelitas, doou os seus órgãos a seis cidadãos de Israel. "Era uma forma de o fazer estar vivo, sentimos que ele está vivo nestas crianças", disse ontem ao PÚBLICO o seu tio, Mustafa Habub.Ahmed morreu sábado à tarde num hospital de Haifa. O seu coração bate agora no peito de uma menina drusa israelita, Samah Gadban, também de 12 anos. Samah estava à espera de um coração há cinco anos. Sábado à noite, os seus pais receberam um telefonema a anunciar que havia um dador. Domingo à tarde, ela recuperava da operação. "É um tal gesto de amor, gostava que a família pensasse que a minha filha é filha deles", disse à imprensa israelita o pai da menina.O tio de Ahmed encontrou-se com ele ontem. "O Exército israelita tem drusos, e demos o coração a uma criança drusa", diz Mustafa. "É uma mensagem de paz."O fígado de Ahmed foi repartido entre um bebé de seis meses e uma mulher de 56 anos. Os seus pulmões foram repartidos entre um menino de cinco e uma rapariga de quatro anos. Os seus rins foram para um menino de cinco anos. Ahmed foi atingido durante uma intervenção do Exército no campo de refugiados de Jenin, Norte da Cisjordânia. O Exército israelita disse em comunicado que "durante a actividade na área palestinianos armados abriram fogo de vários pontos". Julgando ver um homem armado a 130 metros, os soldados dispararam contra Ahmed. Alvejaram-no na cabeça e no abdómen. Quando "se aproximaram do local, encontraram a arma que o palestiniano segurava e descobriram que era uma pistola de plástico", descreve o comunicado. O Exército distribuiu fotografias do objecto para mostrar a semelhança com uma arma verdadeira.Mas Ahmed "não tinha nenhuma arma de brincar", o objecto referido pelo Exército não lhe pertencia, garante o tio. "O pai deu-lhe dinheiro para doces e ele estava a caminho da loja, ao pé de casa." Ahmed foi levado para um hospital em Jenin e acabou transferido para Haifa, com a mediação do Exército israelita e das autoridades palestinianas.
Sábado, quando a morte cerebral se verificou, o hospital perguntou à família se queria doar os órgãos. "Quando fui ter com eles, acho que já tinham decidido sozinhos que iam fazer isso", conta Esther Katz, a enfermeira que os abordou. "Disseram logo que sim, que dar esses órgãos lhes daria outras crianças. Queriam salvar vidas. São muito gentis e generosos."O tio de Ahmed é cidadão árabe israelita. Mas os pais (ele mecânico, ela dona de casa) e os cinco irmãos são palestinianos dos territórios ocupados, de Jenin. No comunicado, o Exército israelita refere um "jovem palestiniano ferido". Diz que "lamenta o incidente". Não diz nome, idade ou gravidade do ferimento (na altura do comunicado, Ahmed estava em coma). Domingo à noite, depois da doação dos orgãos, largamente noticiada pela imprensa israelita, o gabinete do primeiro-ministro Ariel Sharon enviou um pedido de desculpas à família. "Convidou-nos a ir a Jerusalém", diz Mustafa. A família irá (Publico)

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