LIBERTAÇÃO

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domingo, outubro 30, 2005

Saddam recebeu 1800 milhões de dólares de mais de 2200 empresas envolvidas em programa da ONU

Sofia Lorena
Mais de 2200 empresas de pelo menos 60 países que negociaram com o Iraque através do programa Petróleo por Alimentos das Nações Unidas, iniciado em 1996, pagaram subornos ao Governo de Saddam Hussein, concluiu o comité de inquérito independente liderado por Paul Volcker. No seu quinto e último relatório, um documento com 630 páginas ontem divulgado, o comité revela que o regime lucrou 1800 milhões de dólares com as manipulações de que foi alvo o programa.
De acordo com Volcker, ex-presidente da Reserva Federal americana que chefiou durante um ano e meio uma equipa de investigadores, as empresas referidas não estavam necessariamente ao corrente dos pagamentos ilícitos de intermediários.
O inquérito nomeia ainda políticos que receberam favores do regime no âmbito do seu combate às sanções internacionais. "Saddam escolheu favorecer as empresas de nações e indivíduos que, com ou sem razão, sentiu que poderiam ajudar nos seus esforços para pôr fim às sanções impostas no fim da guerra do Golfo" de 1991, disse Volcker. Entre os mais de 60 países de origem das empresas e indivíduos, muitos são russos ou franceses, mas também chineses, dada essa política de favoritismo.
Empresas de outros países, nomeadamente norte-americanas, como a Bayoil, envolveram-se através de companhias registadas em países "aceitáveis".
A Banca Nacional de Paris, que tinha a cargo a gestão das contas do programa da ONU, envolveu-se, por seu turno, numa "situação de conflito de interesses": geria as contas da ONU onde eram recebidos os fundos do programa, mas servia também de garantia às empresas que participaram neste, acabando por ter na sua posse provas de corrupção que não denunciou.
Segundo o relatório, no âmbito do Petróleo por Alimentos o Iraque vendeu um total de 64.2 00 milhões de dólares de petróleo a 248 empresas. Destas, 139 pagaram ao regime somas ilícitas. Em retorno das exportações, Bagdad comprou bens de primeira necessidade a 3614 empresas no valor de 34.500 milhões de dólares. Entre estas, o documento concluiu que 2253 pagaram subornos.
O valor acumulado pelo regime - 1800 milhões de dólares - é, como nota Volcker, muito inferior aos 11 mil milhões que lucrou nas vendas de petróleo exteriores ao programa. Um investigador ouvido em antecipação pelo New York Times refere que nos anos que precederam o programa, valores muito mais elevados tinham sido lucrados com contrabando, beneficiando economias de países aliados dos Estados Unidos, incluindo a Jordânia e a Turquia.
Responsabilidade da ONU
Entre os subornos pagos, o maior é o de 10 mil milhões de dólares gastos pela empresa de comércio malaia Mastek. Nomes proeminentes incluem o gigante alemão Siemens, o ramo de construção do grupo Volvo, e a empresa germano-americana Daimler Chrysler.
Prevendo que a designação das emprensas envolvidas e a exposição das "conspirações" internacionais vá chamar a atenção, Volcker disse esperar que isso não obscureça que o mais importante é o que o relatório "acrescenta à mesma história" e a história é que "são precisas reformas profundas na ONU". "Na minha mente, esta parte da nossa investigação reforça o facto de a própria ONU carregar grande parte da responsabilidade e precisar de reformas", sublinhou.
Os relatório anteriores analisavam as actividades da ONU, concluindo que a coordenação da instituição foi desadequada e, em alguns casos, corrupta, e que o antigo director do programa, Benon V. Sevan, recebeu subornos, o que este desmente.
Ex-embaixador francês entre os "beneficiários"
O relatório do comité de inquérito ao Petróleo por Alimentos isola uma série de "beneficiários políticos", que terão recebido doações ou comissões relacionadas com a venda de petróleo. Segundo as investigações, Jean-Bernard Merrimee, ex-embaixador francês na ONU, recebeu, enquanto era "conselheiro especial do secretário-geral da ONU, quotas de petróleo que totalizaram aproximadamente seis milhões de barris do Governo do Iraque". Outros "beneficiários políticos" incluem o ex-ministro francês do Interior Charles Pasqua; o deputado britânico George Galloway; o presidente da região da Lombardia e um dos líderes da coligação no poder em Itália, Roberto Formigoni, que terá sido beneficiado através da empresa milanesa Cogep; o reverendo Jean-Marie Benjamin, que já foi assistente do secretário de Estado do Vaticano e terá recebido 11 milhões de barris para agradecer o "seu apoio ao Iraque" na defesa do levantamento das sanções; o empresário suíço Alain Bionda; e o presidente do Partido Liberal Democrata russo, Vladimir Jirinovski. Nas respostas ao comité incluídas no relatório, Galloway, Formigoni e Benjamin desmentem (Publico)

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