LIBERTAÇÃO

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quarta-feira, outubro 26, 2005

Ford revê benefícios dos trabalhadores e prepara fecho de fábricas

Rita Siza Washington
O gigante automóvel Ford quer seguir o exemplo da sua concorrente General Motors e estabelecer um acordo com os trabalhadores para a revisão das regalias em termos de assistência médica e fundo de pensões, de forma a corrigir a periclitante situação financeira da empresa. O acordo, cujos contornos não foram ainda totalmente definidos, prevê a renegociação das contribuições para seguros de saúde dos funcionários da empresa e das condições oferecidas aos pensionistas, bem como o possível justamento das remunerações horárias.
A Ford apresentou prejuízos de 1,2 mil milhões de dólares no terceiro trimestre deste ano, e o seu presidente, William Clay Ford Jr., tornou claro que a empresa "precisa de avançar rapidamente com um plano de reestruturação, que afectará todas as divisões e departamentos e todas as hierarquias". "As consequências poderão ser muito dolorosas para alguns, mas são essenciais para a manutenção desta indústria", avisou.
As medidas para a solução a crise da Ford não passam exclusivamente pela renegociação dos contratos colectivos com os sindicatos para a diminuição nos custos laborais. O orçamento de 2005 já inclui uma parcela de 700 milhões de dólares para indemnizações a trabalhadores, ao abrigo de um programa de extinção de 2750 postos de trabalho na área administrativa.
Mas a empresa mantém ainda um plano para o encerramento de fábricas, que será divulgado em Janeiro de 2006, e que pode levar ao fecho de um número "significativo" de unidades e correspondente perda de postos de trabalho, tanto nos Estados Unidos da América (EUA) como na Europa .
Na semana passada, a General Motors (GM) anunciou o estabelecimento de um acordo com o principal sindicato da indústria automóvel, no sentido de diminuir as responsabilidades da empresa com os pagamentos de benefícios de saúde aos seus funcionários. A medida, que permitirá uma poupança calculada de três mil milhões de dólares, foi anunciada como "vital" para a sobrevivência financeira da empresa, que é responsável pelas despesas de reforma e de assistência médica de um milhão de pensionistas e 200 mil trabalhadores, respectivamente. A GM apresentou prejuízos de 1,6 mil milhões de dólares no último trimestre.
A recente falência do fabricante de peças automóveis Delphi só veio piorar o retrato da profunda crise que se abateu sobre um dos sectores mais fundamentais da economia norte-americana. A situação não é nova: há mais de uma década que tanto a indústria automóvel como a aeronáutica estão em perda, iniciando um ciclo de falências, milhares de despedimentos e renegociações de direitos dos trabalhadores.
A concorrência dos asiáticos
A concorrência dos construtores asiáticos é a grande responsável pela "débacle" da indústria americana, que se ressentiu em termos de vendas pela sua incapacidade de combater os baixos preços praticados pelos seus concorrentes e pelo falhanço comercial de alguns dos seus últimos modelos. A crise acentuou-se quando os principais concorrentes, como a Toyota ou mais recentemente a Hyundai, instalaram fábricas próprias nos EUA, sem estabelecerem acordos com os sindicatos - na estrutura de custos dos construtores americanos, os compromissos com pensões e benefícios dos trabalhadores é uma das facturas mais pesadas. E agora, o avanço galopante dos preços dos combustíveis, representou o golpe de misericórdia.
Do lado dos sindicatos, parece haver um "enfraquecimento" do discurso, com a consciência por parte dos principais dirigentes de que a gravidade da situação obriga os trabalhadores a abrir mão de algumas das suas regalias, sob pena de perderem os empregos. Apesar do reconhecimento das dificuldades, e até da abertura para algumas concessões por parte dos trabalhadores, os líderes sindicais observam que o problema não pode ser analisado apenas em termos da "herança" dos custos com as regalias dos trabalhadores.
"Há obviamente uma questão de custos, que pode ser negociada. Mas há uma outra questão que não tem a ver com os trabalhadores, e que é da responsabilidade exclusiva dos construtores: eles não estão a saber fazer carros que o mercado queira comprar", observou o porta-voz do Union of Automotive Workers (UAW), o maior sindicato da trabalhadores da indústria automóvel. Só no ultimo ano, as vendas da GM na América caíram 25 por cento, e as da Ford cerca de 20 por cento, enquanto a Honda e a Nissan aumentaram a sua quota de mercado.
A Crise da Ford
- Prejuízos de 1,2 mil milhões no terceiro trimestre de 2005
- Quebra de 25 por cento nas vendas em 2004
- Previsão de extinção de 2750 postos de trabalho na área administrativa, com dotação de 700 milhões de dólares para indemnizações
- Planeamento de fecho de fábricas nos EUA e Europa, a anunciar em Janeiro de 2006

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