LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

quinta-feira, outubro 13, 2005

Discriminação das mulheres impede eliminação da pobreza

por Isabel Leiria
O mundo nunca erradicará a pobreza, enquanto não eliminar a discriminação física, económica e social de que continuam a ser vítimas as mulheres. "O apartheid de género" pode mesmo pôr em causa o cumprimento do objectivo definido pelas Nações Unidas de reduzir para metade os níveis mundiais de pobreza extrema até 2015, alerta-se no relatório anual da ONU sobre a situação da população mundial, divulgado ontem."Não podemos fazer da pobreza um fenómeno do passado enquanto não pararmos a violência contra mulheres e raparigas e enquanto as mulheres não gozarem por inteiro os seus direitos", reforçou Thoraya Ahmed Obaid, directora-executiva da Fundo Nações Unidas para a População, durante a apresentação do relatório, em Londres e citada pela Associated Press. De acordo com o documento, a aposta na igualdade de géneros e na melhoria da saúde reprodutiva poderia salvar a vida de dois milhões de mulheres e de 30 milhões de crianças nos próximos dez anos. Ao mesmo tempo, milhões de pessoas não conseguiriam sair da pobreza a que estão condenadas se nada for feito. E é por isso que, dos oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, acordados em 2000 por dirigentes de 189 países, as Nações Unidas elegem o da promoção da igualdade de géneros como "crítico" para o cumprimento das restantes sete metas. Universalizar o ensino primário, reduzir em dois terços a mortalidade infantil e a taxa de mortalidade materna ou o combate ao HIV/Sida são outras das intenções.O aumento das oportunidades políticas, económicas e educativas das mulheres levará a "uma melhoria das perspectivas económicas, à redução dos agregados familiares, crianças mais educadas e saudáveis, taxas de prevalência do HIV menores e à diminuição das consequências nefastas na saúde de práticas tradicionais", justificou Thoraya Ahmed Obaid. Evolução tem sidodemasiado lentaO problema, constata a ONU, é que o cenário permanece negro para muitas mulheres. Em pleno século XXI, a violência mata ou causa danos a tantas mulheres e raparigas entre os 15 e os 44 anos como o cancro. A falta de métodos contraceptivos é responsável por 76 milhões de gravidezes indesejadas nos países em desenvolvimento. E todos os anos são praticados 19 milhões de abortos sem condições. "Isto tem como consequência 68 mil mortes", lê-se no relatório.A ONU diz que se se evitassem as gravidezes involuntárias através do acesso ao planeamento familiar poderiam evitar-se 20 a 35 por cento das mortes maternas e salvar-se a vida a mais de 10 mil mulheres por ano. O número pouco se alterou na última década. Em termos globais, muitos países registaram progressos. O problema é que a evolução tem sido demasiado lenta, conclui a ONU. O investimento necessário para que os objectivos consagrados na Declaração do Milénio nem sequer é assim tão avultado. Bastaria que os países industrializados cumprissem o acordo assumido há 35 anos de atribuir 0,7 por cento do PIB à ajuda pública ao desenvolvimento, nota ainda o relatório. "Se os líderes mundiais decidirem fazê-lo, penso que as metas podem ser atingidas até 2015. A questão é saber se existe a vontade política de fazer este investimento", afirmou Obaid. A educação das raparigas e das mulheres, a informação sobre saúde reprodutiva e serviços nessas áreas, bem como a garantia dos direitos económicos das mulheres são tidas como áreas onde os investimentos poderão ser particularmente eficazes
Indicadores
1 em cada 3 mulheres corre o risco de ser vítima de abuso sexual, físico ou psicológico ao longo da sua vidaMais de 600 milhões de mulheres são iletradas, em comparação com 320 milhões de homens 2 em cada 3 raparigas na Ásia do Sul e metade nos países da África subsariana não concluem a escola primáriaEm cada minuto que passa morre uma mulher devido a complicações resultantes do parto ou da gravidez e 20 ficam com lesões ou incapacidades gravesQuase 3 milhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia7 mil jovens são infectados pelo HIV todos os dias

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