LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

sábado, outubro 08, 2005

Brasil: um caso que deu que falar


Foi uma senadora brasileira (na foto) que denunciou tudo:

"No lugar de poltronas, quatro beliches e uma cama de casal. Para separar o motorista dos demais passageiros, uma porta. Esse é o ônibus-motel que por oito meses circulou nas estradas que unem Rio Branco, no Acre, a Porto Velho, em Rondônia. A existência do Busão — como o veículo ficou conhecido na região — foi descoberta em uma das diligências da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Mista, do Congresso Nacional, que investiga a exploração sexual de crianças e adolescentes. Deputados e senadores deram de cara com o veículo ao apurar o caso de um executivo do Acre acusado de adaptar o ônibus para que meninas, com idade de 11 a 17 anos, mantivessem relações sexuais com ele e os amigos.
O caso foi denunciado pela equipe da CPI ao Juizado da Infância e Juventude de Rio Branco, que instaurou processo para investigar as acusações contra César Tadeu Teixeira, ex-diretor da empresa de ônibus Real Norte. A Real Norte é a maior empresa do setor no Acre, responsável por linhas intermunicipais. É a única companhia que faz viagens de Rio Branco a Porto Velho — municípios separados por mais de 500 quilômetros. A viagem dura cerca de seis a sete horas .
Constrangimento
Antes da denúncia, Teixeira foi demitido do cargo pelo dono da empresa, Éder Augusto Pinheiro, que não esconde o constrangimento diante das acusações que pesam sobre o ex-funcionário. ‘‘Soube dessas denúncias faz pouquíssimo tempo, e não me recuperei até agora. Estou chocado e surpreso. Essas acusações são seriíssimas e devem ser apuradas por completo,’’ diz Pinheiro. ‘‘Nunca imaginei que alguém pudesse fazer isso com crianças e adolescentes. Nem passou pela minha cabeça que um ônibus da empresa fosse utilizado para esses fins.’’ Logo que soube das suspeitas, ele colaborou com as investigações da comissão.
De acordo com as investigações da CPI, os serviços sexuais das meninas eram contratados por um homem conhecido como Goianão, que agenciava nativas do Acre e de Rondônia. Segundo o depoimento de uma adolescente de 17 anos, as meninas mantinham relações sexuais com Teixeira, na única cama de casal que havia no ônibus, e com os amigos dele nas beliches. Em troca, recebiam presentes, como roupas, perfumes e chocolates. Às vezes, eram pagas com dinheiro — as quantias não foram reveladas.
Sob pressão
Após as denúncias, o ônibus-motel foi desmanchado e Teixeira não foi localizado para prestar esclarecimentos. Mas a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Acre, Malu Gouvêa (PT), recebe diariamente denúncias contra o empresário. ‘‘As acusações contra empresários, políticos e até juízes são inúmeras. O ideal seria instaurar uma CPI aqui em Rio Branco. Vamos ver se isso será possível. Mas não está fácil, a pressão contra é grande’’, diz ela.
Até o final deste mês, a CPI mista do Congresso deverá fazer uma diligência específica no Acre, atendendo a um requerimento da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC). ‘‘A situação no Acre é gravíssima, pois há redes de tráfico de mulheres e meninas entre os municípios e além das fronteiras’’, afirma. ‘‘As acusações vão desde pedofilia até exploração e violência sexuais. Tudo deve ser apurado com muito cuidado.’’
Barcos que viram motel
A descoberta do Busão, o ônibus-motel do Acre, alertou integrantes da CPI que Investiga a exploração sexual de crianças e adolescentes para a existência de barcos-motel na região Norte. Na última semana, três adolescentes de 12 a 17 anos foram resgatadas da prostituição no flutuante Aquático, bar improvisado num barracão construído sobre uma plataforma de madeira no Rio Negro, em Manacapuru (AM). A deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) lembra que, no passado, houve dois escândalos sexuais em Manaus envolvendo empresários que utilizavam barcos para fins de exploração sexual. Ela ressalta que o barco é o principal meio de transporte na região, porque é o único a permitir acesso a áreas isoladas e de domínio de aldeias indígenas. ‘‘A situação se agrava porque, pela cultura indígena, as meninas podem ter vida sexual assim que entram na puberdade’’, relata a deputada. ‘‘Muitas vezes, esse aspecto cultural é utilizado de maneira inadequada.’’ Em fevereiro, dez meninas de 13 a 17 anos foram retiradas do flutuante Aquático por agentes da Delegacia Especializada na Assistência e Proteção à Criança e ao Adolescente, que combate a exploração sexual, mas o dono do bar não foi indiciado. Na semana passada, a delegada Graça Silva convocou o proprietário do bar e o dono de um motel para prestarem esclarecimentos. De acordo com depoimentos de adolescentes, os preços dos programas variavam de R$ 20 a R$ 300. Segundo a delegada Graça Silva, somente uma operação ‘‘sem trégua’’ poderá acabar com a exploração sexual nos barcos flutuantes.
Aliciamento de índias
A CPI que investiga a exploração sexual de crianças e adolescentes deverá fazer investigações em cada um dos estados da região Norte. As primeiras apurações mostraram que a exploração sexual nessa área tem características próprias. Em geral, os aliciadores buscam meninas de origem indígena, menores de 17 anos, atendendo a apelos de turistas estrangeiros. A deputada Suely Campos (PFL-RR) está preocupada com a utilização de Roraima como ‘‘corredor de passagem’’ para a exploração sexual. Segundo ela, crianças, adolescentes e mulheres adultas são levadas do Norte do país, passando por Roraima, para garimpos na Venezuela. ‘‘A situação se agrava a cada dia e é muito séria, pois aliada à exploração sexual há outros crimes, como tráfico de drogas’’, conta. Para a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), as redes de exploração sexual do Norte atuam em várias rotas: há redes ligando municípios e estados e também para fora do país. De acordo com ela, além dos garimpos da Venezuela, há ramificações para países do Caribe e Europa. ‘‘A CPI irá intensificar as investigações porque quanto mais tempo passa, mais a situação piora’’, diz. Cuidadosa para não atrapalhar os trabalhos de apuração da comissão, a deputada Ann Pontes (PMDB-PA) destaca a concentração de exploradores na região amazônica. Segundo ela, isso se deve ao fato de turistas darem preferência a meninas com traços indígenas. ‘‘Há estimativas sobre a existência de 76 rotas de tráfico de mulheres, crianças e adolescentes somente na região Norte’’, afirma ela. ‘‘É um número que assusta.’’
Vítimas
Meninas com traços indígenas, considerados exóticos por estrangeiros Meninas pobres com idades de 10 a 17 anos Meninas de origem indígena
Exploradores
Empresários, políticos e comerciantes locais Aliciadores contratam meninas em regiões pobres onde há concentração de povoados indígenas O sexo é pago com dinheiro e presentes simples, como roupas, chocolates e perfumes. Constataram-se casos em que as meninas recebiam R$ 1 para manter relações sexuais.

1 Comments:

Blogger Comunica said...

Essa foto não está adequada à matéria. Ficou meramente ilustrativa e apelativa. E o pior: o tema tratado é justamente exploração sexual de crianças. A foto mais parece de um site de pedofilia. Liberdade, sim. Mas cuidado com informação e imagem devem estar acima de tudo

8:08 da tarde  

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