LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

sábado, setembro 17, 2005

A política bateu no fundo

Do "Publico" um artigo interessante sobre a nossa política...
As eleições autárquicas são, por regra, das menos participadas, com excepção das europeias. O que representa uma certo paradoxo: afinal, o poder local está mais próximo dos cidadãos, os autarcas têm uma grande capacidade de melhorar (ou de piorar) a qualidade de vida das populações e estas conhecem-nos muitas vezes pessoalmente, não apenas porque aparecem na televisão ou têm o rosto num cartaz. Contudo...
Contudo Portugal é um país onde, apesar dos bairrismos, sempre houve um poder central forte e, sobretudo, uma projecção das frustrações e dos sucessos do país no Terreiro do Paço. O que corre bem e o que corre mal é quase sempre visto como obra de quem ocupa os ministérios, enquanto a capacidade de escrutinar os poderes locais é limitada, com excepção das grandes câmaras, onde se focalizam as atenções dos órgãos de comunicação social.
Esta situação tem efeitos perversos. Primeiro, as competências dos municípios são muito diminutas. Áreas que noutros países são geridas localmente com eficiência (como as escolas do ensino básico e secundário ou grande parte das redes públicas de saúde e assistência social) dependem em Portugal de Lisboa ou de serviços desconcentrados da administração central, tudo com enorme peso burocrático. Depois, a excessiva focalização dos poderes locais no binómio urbanização/obras públicas, com as licenças das primeiras a financiarem a realização das segundas, tem ajudado a criar o caos no território e, pior do que isso, alimentado perigosas ligações entre construtores civis e dirigentes partidários locais, numa teia de interesses cruzados que engorda o cancro maior da democracia, a corrupção. Por fim, a necessidade de "mostrar obra" tem fomentado a multiplicação de obras de fachada com muito pouco impacto na qualidade de vida das populações.
Nada disto se deverá discutir com seriedade nestas eleições onde os cidadãos vão antes do mais escolher os seus autarcas com base em critérios locais e pessoais. Ou seja, estas são 308 eleições diferentes cujo resultado global só marginalmente é determinado por reflexos de voto partidários ou de avaliação da acção do Governo. É certo que, sobretudo nos grandes centros urbanos, o grau de satisfação com as políticas do partido no poder influencia as escolhas, mas é errado pensar que os eleitores terão como primeiro critério premiar ou castigar o primeiro-ministro em funções.Exemplos da influência que as questões locais (e os candidatos) têm no sentido de voto surgirão nos concelhos onde concorrem figuras que os partidos, por bons motivos, não quiseram nas listas. Aí as escolhas que forem feitas dirão muito sobre a responsabilidade dos eleitores no actual estado de coisas, pois a salubridade do espaço político diz respeito a todos e não só aos que se dedicam à res publica...

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