LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

sábado, setembro 17, 2005

Morreu um padre "fuzilado" há 67 anos...

Uma história curiosa (do jornal Publico):
Em 17 de Junho de 1938, o padre espanhol Eugenio Laguarda foi espancado, golpeado, fuzilado e atirado para um barranco. Mais de 67 anos depois, o padre Eugenio morreu, com 94 anos, na localidade valenciana de Bonrepós, onde foi a enterrar na segunda-feira passada, dia 12. Afinal, apesar dos golpes e do tiro de que foi vítima, Laguarda sobreviveu. A história vem contada no La Razón, de ontem. Eugenio Laguarda tinha ido para pároco da pequena localidade de Zucaina. Estava ali há 15 meses quando a guerra começou, tinha 27 anos. O jovem padre escondeu todas as imagens da paróquia em casas particulares, continuando a ir à igreja, mas sem tocar o sino. "Tinham morto muitos padres das aldeias", contava ele, em 2001, no semanário da diocese de Madrid, o Alfa y Ómega - a questão religiosa foi uma das que atravessaram a Guerra Civil de Espanha. Depois de ter sido procurado por milicianos republicanos, que viriam com a intenção de o matar, o padre refugiou-se numa casa de camponeses, a hora e meia de Valência, a pé. A quinta foi depois procurada pelos milicianos para ali alojar soldados e Laguarda pôs-se a caminho da montanha. Foi interceptado por um par de soldados que procuravam um preso e lhe pediram a identidade. Depois de confessar que era padre, os soldados pegaram-lhe com violência, revistaram-no e encontraram-lhe o breviário. "Um dos soldados deu-me um murro com a espingarda na cara, derrubando-me e deixando-me sem visão no olho direito", durante três meses. "Mandou-me levantar e voltou a dar-me outro murro, que me partiu o nariz", contava o padre Eugenio, em 1999, numa entrevista ao semanário Paraula. "Quando eu já não conseguia levantar-me, deram-me o tiro de misericórdia. A bala entrou mesmo por baixo do olho esquerdo, seguiu pela garganta, atravessou-me o palato, a língua e o pulmão, onde permaneceu 16 anos." A seguir, os soldados das milícias republicanas ainda atiraram o padre para um barranco. "Eu ouvia-os a ir-se embora, rindo-se de como eu rezava à Virgem."Foi ao fim de algumas horas e de muito esforço que o padre conseguiu subir de novo para a estrada, sendo socorrido por um pequeno autocarro que passou à meia-noite, com a intenção de o levar para um hospital. O autocarro ainda se cruzou com os dois milicianos, que quiseram acabar de vez com o padre, mas o motorista impôs-se e transportou Laguarda para ser socorrido. Depois da Guerra Civil e já sob o regime de Franco, os soldados foram condenados à morte pelo acto. Mas, procurado pelos pais de ambos, o padre interveio, intercedendo pelos homens. Obteve o perdão para ambos. Em 1999, na altura da citada entrevista, Laguarda tinha notícia de que pelo menos um deles ainda vivia. Chamar-se-ia Antonio, mas o padre Eugenio recusava-se a dizer o apelido. "Como eles preferiram não me vir ver, também não fui ter com eles. Não achei conveniente. A verdade é que teria gostado que tivessem vindo desculpar-se."O episódio do padre Laguarda foi um dos que, na mesma época, vitimaram 233 padres e católicos valencianos, que foram beatificados em Março de 2001 por João Paulo II. "Deus viu que eu não merecia estar entre eles e quis que trabalhasse muitos anos", contava o próprio no Paraula. Nessa altura, com 90 anos, celebrava missa às sete da manhã e punha-se, depois, a confessar durante horas. Entre 18 de Junho de 1936 e 1 de Abril de 1937, pelo menos 6832 padres, frades e freiras, bem como 12 bispos, foram mortos na Guerra Civil espanhola.

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