LIBERTAÇÃO

UM ESPAÇO DE LIBERDADE SEM ILUMINADOS E HIPOCRISIAS

segunda-feira, setembro 12, 2005

Pulseiras solidárias


A moda das pulseiras da solidariedade há muito deixou de ser amarela. Lançada pela fundação contra o cancro do ciclista Lance Armstrong, a tendência das pulseiras com significado assumiu em 2004 a sua hegemonia sob o manto da silicone: os aros elásticos amarelos significavam que quem os usava se importava. Com o cancro, com as causas, com a sociedade. Na ribalta humanitária, passavam de pulso em pulso, cada um mais célebre do que o outro, entre cantores, actores e políticos. À moda amarela juntaram-se outras. A silicone passou a ser símbolo da luta contra o cancro da mama em substituição do lacinho cor-de-rosa, balança nos pulsos dos futebolistas e desportistas em geral a preto e branco, contra o racismo (a campanha "Stand Up, Speak Up" da Nike), chama a atenção com o vermelho da luta contra a sida e, em versão americana, veste-se de caqui para mostrar apoio às tropas no Iraque ou de azul para combater o "bullying" (a violência entre alunos nas escolas). A pulseira "livestrong" vendeu 50 milhões de unidades em 2004, aos quais se juntam os milhões de todas as outras só nos Estados Unidos. O exemplo de tão vendável e recomendável acessório lançou os fabricantes e as associações cívicas num frenesim. No Brasil, a pulseira contra o cancro é azul e só em dois meses venderam-se 200 mil exemplares. Imediatamente, dezenas de outras pulseiras solidárias emergiram no mercado brasileiro. Laranja pelo orgulho gay ou contra o turismo sexual infantil, verde pelos desalojados pelo tsunami e uma campanha verde e amarela contra a corrupção na política, que por semanas se antecipou ao escândalo do "mensalão" do Partido dos Trabalhadores do Presidente Lula da Silva (as pulseiras têm cravadas a frase "Não está à venda"). Imbuída de espírito Armstrong, a campanha Make Poverty History, que culminou com o concerto Live 8, usa pulseiras de silicone brancas e sugere mesmo que se usem no espelho retrovisor, no tornozelo, na lapela, nos atacadores dos ténis ou na coleira do cão. Em Portugal, a Fundação do Gil associou-se à Swatch e oferece uma pulseira laranja na compra do relógio de cuja venda revertem seis euros para a construção da Casa do Gil, que vai acolher crianças com necessidade de acompanhamento médico. Mas não só de causas se faz a moda de uma pulseira. A silicone também serve para ganhar dinheiro e alimentar a voragem juvenil. O publicitário brasileiro Ricardo Campos vivia em São Paulo ocupado com o seu trabalho numa agência. Rodeado de pulseiras, escolhidas por muitos produtos como brindes chamativos - é o caso de bolos embalados ou jornais portugueses como o "24 Horas" ou "O Jogo" -, fez a única coisa que um profissional que quer ganhar dinheiro faria: montou uma fábrica de pulseiras e em dois meses fez mais de cem mil unidades para oito projectos diferentes, mais ou menos solidários. Já em 2004, as vendas clandestinas de pulseiras amarelas no e-Bay e a contrafacção das Chinatown americanas preocupavam as organizações de solidariedade, porque estavam a desviar dinheiro dos fins das campanhas e a desvirtuar as causas. Um ano depois, nada há a fazer. Há pulseiras para todos os males e não só para todo o bem que se pode fazer: para a clubite aguda, Sporting, Benfica e FC Porto já têm pulseiras; para crises esotéricas, os bolos ou as lojas de acessórios oferecem silicone repleta de Sucesso, Emoção, Amor e outras generalidades; e para a necessidade de ser igual aos outros e usar a pulseira da moda, basta ir às feiras e encontrar, a um euro, tiras coloridas vazias de qualquer beneficência. (publicado no jornal Publico)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bom dia,chamo-me Fátima e gostaria de uma informação,onde poderei arranjar as pulseiras solidárias cor de rosa contra o cancro da mama em silicone.
meu e-mail fatimalmeida1962@hotmail.com
Obrigada
Fátima Oliveira

8:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Onde posso arranjar uma pulseira dessas?
Obrigado
Vitor (vitordiasslb@hotmail.com

9:56 da tarde  

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